Relato sobre a morte e a vida




Achei que esse seria um assunto fácil e que eu iria escrever normalmente, pois sou bem familiarizado com o assunto, mas foi o contrário. Estou sentado na frente do computador há duas horas e o único progresso que fiz foi anexar a imagem de cabeçalho com o nome da atividade.

"Memento Mori" foi a primeira atividade proposta pelo Professor Joel Felipe no componente curricular de Universidade e Sociedade. Memento Mori significa (segundo meus tempos de leitura de budismo) não negar a existência da morte, lembrar-se dela, não temê-la e abraçá-la quando a encontrar de bom grado e ser grato pelo tempo que viveu.

A atividade consistia em cada pessoa levar quaisquer objetos que a marcou ou que tivesse um significado importante na vida.  Eu escolhi levar dois objetos, um macaco de pelúcia que eu amo desde criança e dois tomos de poesias que escrevi durante 2012 e 2018 que compilei um dois livros.

Os dois tomos.

A capa do livro que sonho terminar e lançar.

Processo criativo da organização. Inventei nomes de sentimentos para separar o livro em 4 capítulos.

Esses textos foram escritos entre os anos de 2012 e 2018 (como antes mencionado) para extravasar os sentimentos e não me submergir demais dentro deles. Não obtive sucesso, me afoguei ainda assim, indo a ao extremo de quase tentar morrer 3 vezes, mas felizmente ficou tudo bem e rendeu textos que as pessoas dizem que são muito bons e que eu claramente discordo. A maioria dos textos falam sobre amor, mais especificamente sobre uma pessoa que passou pela minha vida e me levantou quando eu não mais tinha pernas e infelizmente foi embora rápido demais assim como chegou.

Na apresentação na sala fiquei nervoso demais por contar essa história e acabei esquecendo de mostrar esse colar que fiz:

Hematita, uma pedra de proteção, absorve baixas energias e ajuda no equilíbrio emocional.

Ganhei a pedra de um amigo que fiz quando morava em Ilhéus e estudava no colégio militar. Ele soube que eu tinha uma coleção de pedras e resolveu trocar umas que ele tinha. Ele me deu essa depois que implorei. Eu já sabia do significado e tudo o que ela representava. Passei a levá-la comigo a todos os lugares que ia e me sentia em paz mesmo com um monte de problemas que me tiravam o sono. Quando voltei para a cidade fantasma (Floresta Azul -BA), decidi fazer um colar com ela, finalmente. (Ainda não tinha o feito pois no CPM não se pode usar colares.) No início ele era bem simples, só a linha e a pedra.

E é aqui em que um objeto se liga ao outro, o colar e as poesias. Em 2015 me apaixonei e em 2016 amei e a namorei. Ela vivia reclamando que estava estressada com o colégio e eu entreguei o colar a ela para que ele a ajudasse assim como me ajudou. O fato foi que ela só o usou uma vez, quando eu o entreguei. Quando nos separamos, pedi o colar de volta, pois naquele momento quem mais precisava dele era eu.

(Pausa para um aviso: Sim, eu sei. Eu não deveria ter feito isso. Mas veja bem, eu tinha acabado de perder quem eu mais amava naquele momento, estava desnorteado e não queria perder uma outra coisa que significava muito pra mim. PS: Só lendo o livro ou encontrando um blogue antigo meu para entender o motivo da separação.)

Quando ela entregou, refiz o colar e ele tomou a forma que tem hoje. Possui duas contas, uma de cada lado da linha. Lembrando de toda história que escrevi no livro, duas pessoas que  mesmo estando na mesma linha (cidade), nunca se encontram realmente.

Tem algo que as impede de se encontrar.
O colar (hoje) em detalhe.

E mais uma hematita em forma de conta numa linha que segura 3 penas. Na numerologia, o 3 influencia os sentimentos e a expressão deles e é daí que vem as penas, para escrever minhas poesias, para mostrar os caminhos que eu posso seguir, para reforçar minha proteção, para me motivar a ir longe, etc.

Quase nada do que produzo é banal, superficial ou feito de qualquer jeito.



E para quebrar o gelo que foi colocado na mesa pelo relato acima, falei sobre esse macaco de pelúcia que tenho desde pequeno, é bem provável que seja mais velho que eu. Eu morava em São Paulo quando ganhei ele. Minha tia trabalhava de doméstica e a filha da dona da casa tinha acabado de fazer 21 e não queria mais as várias pelúcias do quarto dela e deu esse pra minha tia me dar, desde então, o tenho até hoje. O nome dele é Chupeta.



Não me lembro muito bem a data, mas essa é foto mais antiga que tenho com ele (olha ele ali no canto da cama), ela foi tirada aqui na Bahia, Floresta Azul. Se não estou enganado era o meu aniversário, 22 de julho de algum ano que sinto saudades.



Para terminar este texto, decidi trazer um dos meus poemas favoritos. Um poema de Gonçalves Dias, a quinta parte de "Visões", intitulado "A morte". Abaixo o canto cinco completo.


V

A Morte

Dans sa doiileur elle se trouvail
malheurese d′être immortelle.
— Fénelon.

Da aurora vinha nascendo
O grato e belo clarão;
Eu sonhava! já mais brandos
Eram meus sonhos então.

Condensou-se o ar num ponto
Cresceu o sutil vapor;
Vi formada uma beleza,
Cheia de encantos, de amor.

Mas na candura do rosto
Não se pintava o carmim;
Tinha um quê de cera junto
À nitidez do marfim.

— Quem és tu, visão celeste,
Belo Arcanjo do Senhor?
Respondeu-me: — Sou a Morte,
Cru fantasma de terror

— Ah lhe tornei: És a morte,
Tão formosa e tão cruel!
— Correndo o mundo sozinha
No meu pálido corcel —

Assim dizia — "Tu julgas
Que não tenho coração,
Que executo os meus deveres
Sem pesar, sem aflição?

— Que inda em flor da vida arranco
Ao jovem, sem compaixão, 
À donzela pudibunda
Ou ao longévo ancião? 

— Oh! não, que eu sofro martírios
Do que faço ao mais sofrer,
Sofro dor de que outros morrem,
De que eu não posso morrer;

— Mas em parte a dôr me cura
Um pensamento, que é meu, —
Lembro aos humanos que a terra
É só passagem p′ra o céu.

— Faço ao triste erguer os olhos
— Para a celeste mansão;
Em lábios que nunca oraram
Derramo pia oração.

— É meu poder quem apura
Os vícios que a mente encerra,
Ao fogo da minha dôr;
Sou quem prendo aos céus a terra,
Sou quem ligo a criatura
Ao ser do seu Criador. 

— Mas qu′importa? Sem descanso
É-me forçoso marchar, 
Abater ímpias frontes,
Régias frontes decepar. 

— Passar ao través dos homens,
Como um vento abrasador; 
Como entre o feno maduro
A foice do segador. 

— E prostrar uma após outra
Geração e geração, 
Como peste que só reina
Em meio da solidão." — 

Desponta o sol radioso
Entre nuvens de carmim: 
Cessa o canto pesaroso,
Como corda áurea de Lira,
Que se parte, que suspira
Dando um gemido sem fim.




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